Dólar cai para R$ 5,27, e Ibovespa bate seu 12º recorde no ano
Num misto de eventos positivos do exterior e do noticiário local, o dólar desceu ontem ao menor patamar em 17 meses, enquanto o Ibovespa renovou, pelo 12º pregão consecutivo, seu recorde nominal. Ao fim do dia, o principal índice da Bolsa brasileira fechou em alta de 1,6%, aos 157.749 pontos, enquanto o dólar caiu 0,64%, para R$ 5,27, o menor patamar desde 6 de junho de 2024.
A manhã começou positiva nos mercados internacionais com um projeto aprovado pelo Senado americano que pode encerrar o shutdown, o maior da História recente dos Estados Unidos, e com a divulgação de um relatório privado de emprego no país. A pesquisa da ADP, que ganhou relevância por causa do apagão de dados públicos sobre o mercado de trabalho, mostrou que o setor privado fechou mais de 11 mil vagas no mês passado nos Estados Unidos.
— Os dados reforçam a percepção de que a economia americana dá sinais de desaceleração, o que aumenta as apostas em um novo corte de juros pelo Fed (Federal Reserve, o banco central americano) ainda em dezembro — avalia Luciano Costa, economista-chefe da corretora Monte Bravo.
Nas Bolsas em Nova York, o Dow Jones subiu 1,18%, o S&P 500 avançou 0,21%, e o Nasdaq teve leve recuo, de 0,25%, com o mercado ainda avaliando sinais de desvalorização das ações de empresas ligadas à inteligência artificial (IA).
BC PONDEROU ISENÇÃO DO IR
Como o fechamento de vagas e a perspectiva de juro menor nos EUA, o dia foi de desvalorização global da moeda americana. O DXY, que mede a variação do dólar em relação a outras seis divisas, caiu 0,29%. Por aqui, o diferencial do juro doméstico em relação ao dos EUA, hoje em 11 pontos percentuais, contribui com a atração de capitais.
Divulgados ainda pela manhã, tanto o IPCA, que mostrou inflação menor do que a esperada pelo mercado, quanto a ata da última reunião do Copom, lida como mais branda que a anterior, também animaram os investidores. Na semana passada, a taxa básica de juros (Selic) foi mantida em 15% ao ano.
— Comparada com a última versão, a ata mostra um tom mais dovish (brando) do Banco Central, no sentido de que, com esse patamar de restrição dos juros, os níveis de inflação convergiriam para mais próximo do centro da meta no horizonte relevante. É uma boa notícia para o mercado — afirma Matheus Nascimento, analista da Oby Capital.
A informação do Copom de que o BC já considerou em seus prognósticos os possíveis efeitos inflacionários da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil também contribuiu com o dia positivo no mercado.
— Havia uma certa preocupação de que o BC não incorporasse essa isenção nas suas projeções, o que poderia, lá na frente, comprometer a trajetória de queda da inflação e acabar forçando manutenção dos juros por mais tempo do que o previsto — diz Costa.
JURO FUTURO: MENOR DO ANO
A queda do dólar e as divulgações da ata do Copom e do IPCA abaixo do previsto também contribuíram para a redução dos juros futuros, que encerraram o dia nos menores níveis do ano nos contratos de curto e médio prazos, segundo dados do ValorData.
Tanto os juros reais das NTN-B (títulos atrelados à inflação) quanto as taxas prefixadas cederam diante da percepção do mercado de que estaria aberta uma janela para cortes da Selic. A taxa com vencimento para janeiro de 2027 da taxa de Depósito Interbancária (DI) caiu 0,14 ponto, para 13,68%, e a de janeiro de 2029 desceu de 13%, para 12,86%.
Na B3 (a Bolsa de São Paulo), o Ibovespa completou 15 dias de alta, um ritmo de máximas consecutivas que não era visto desde 1994. Ações de empresas voltadas ao consumo doméstico, mais diretamente sensíveis à arrefecida de juros, dispararam ontem: CVC subiu 11,48%, cotada a R$ 2,04;
Magazine Luiza avançou 7,96%, a R$ 9,09, e C&A ganhou 7,37%, a R$ 18,06. Papéis com maior peso no Ibovespa também tiveram alta firme: Itaú avançou 1,93%, a R$ 41,22, e as ações preferenciais da Petrobras fecharam em alta de 2,6%, a R$ 33,20.
— Tem a ver com cenário global. Se comparar com o restante dos emergentes, em dólares, estamos em linha. Em preços relativos, o mercado americano está muito caro — diz Luis Castro da Fonseca, da Nest Asset.
Ele avalia haver uma migração das aplicações para economias que mostram possibilidade de crescimento.